quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ouro Preto - Sussuro

Ela sussurrava-me ao ouvido.

Na cama, sussurava-me ao ouvido, como que a reclamar o direito a viver nos meus sonhos.
Na rua, sussurava-me ao ouvido, como que a reclamar o direito a viver nos meus passos.
Por todo o lado, sussurava-me ao ouvido, como que a reclamar o direito a viver nos meus olhos.

Deixei-a saber, pelo canto dos lábios vincado num sorriso, que não lhe ignorei o sussuro, mas segui em frente com os olhos serrados no chão. Segui pelas ruas, ela sempre no fundo. Serrei a vista de ruas, de prédios, de gente. Ela estava por toda a Vila Rica e por todos os lugares e todos os sítios em torno. No contorno das ruas que deslizava pelos lados da montanha, nas varandas que extendiam os ramos das árvores, no caminhar da gente que sepenteava, lento, como o chilrear mudo de um riacho.

Ela sempre esteve lá, no fundo dos meus olhos, no fundo dos meus sonhos.
A Serra sussurou-me ao ouvido até eu não resistir a vê-la, de olhos fechados, no fundo dos meus passos.

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