sábado, 26 de abril de 2008

Porteiros

Este post increve-se na categoria das "job descripion: fazer número". Há muitas dessas profissões aqui, em que se pede a uma pessoa que seja pouco mais que isso mesmo: uma pessoa, ali, naquele lugar, durante horas e horas a fio, com o único propósito de estar lá.
São pessoas que se substituem a máquinas, que nem seriam muito complexas e que, muitas vezes se juntam redundatemente a essas máquinas que, já estando lá, fariam o trabalho perfeitamente sozinhas.

Os porteiros foram os primeiros a chamarem a minha atenção para esta forma de alienação grostesca e oitocentista do trabalho e da condição humana. Durante turnos de seis ou mais horas, os porteiros ficam lá, na portaria, dentro dos prédios ou, por vezes, em cubículos lá fora e observam através de uma câmara minúscula, as pessoas que se aproximam. Nada mais que isso. Horas e horas a fio.

Naturalmente, às pessoas que querem entrar no prédio para visitar alguém, fazem valer a sua presença, como modo desesperado de justificar a sua utilidade. Com uma voz agressiva, perguntam-nos quem somos e ao que vimos e, as mais das vezes, sínteses entre o interfone e o botão para abrir a porta, ligam lá para cima, fazem de intermediários entre nós e o dono da casa (o que nos obriga, de cada vez que nos deslocamos a uma casa nova, a recolher algumas informações sobre a pessoa, como o apelido e o número exacto do apartamento) e, caso este concorde, abrem os portões do edifício.

Na prática, como noutros exemplos que penso vir a dar mais tarde, a sua presença resume-se à silhueta de uma forma humana e ao pretenso "efeito psicológico" (fala-se muito disso aqui) que isso terá nos menos-bem-intencionados.

1 comentário:

Joana disse...

sabes que tb há disso cá, n sabes?

e é bom ver que n te esqueceste de escrever na língua de camões (antes do acordo).